December 13, 2008

. strange what love does .


Hoje vejo tudo de outra forma.

De um modo distorcido, algo noir, mas diferente, E isso basta-me.

. a story of a mystery . a mystery inside worlds within worlds . unfolding around me .

. in search of myself .


Cegamente invado o meu lugar escondido, percorrendo com as minhas mãos os muros frios, em busca das chagas que engolem avidamente os resquícios de uma antiga realidade, Procuro certificar-me que cada palmo de terra colmatou proficuamente esses abusos e me reduziu, sensorialmente, a esta irreversibilidade caótica, Orgulho-me, Mas não é suficiente.

. i’m in trouble .

E do desequilíbrio decorre a minha essência, Pois a cada segundo latejante, a balança irascível pende toda a sua pujança para o precipício da minha intimidade, intentando alucinadamente bater no fundo e preencher o vácuo com os fragmentos que a alimentam, Não são mais que as experiências insanas que gravitam hesitantemente em meu redor, Atraídas pela minha complexidade, Repelidas pela razão.

. a key to a mystery lies somewhere .

Ao mesmo tempo, recebo de mão beijada uma panóplia de emoções encerradas numa caixa preta, opaca, O desespero é por demais evidente, Mas nem a prepotência de um impulso, por si só, conseguiria desencarcerar essas pequenas peças, Que caídas ao chão resolveriam instantaneamente um puzzle, de uma fisionomia deveras conhecida, e que colocado lado a lado, se fundiria comigo num só, No eu, Ainda despido, Mas no Eu.

. who the hell are you? .

E munido desta certeza, apenas encontro forças para atirar displicente a caixa contra a parede, Mas ao invés da eclosão esperada, abriu-se um buraco, através do qual a caixa passou e desapareceu, Uma luz psicadélica invade agora o meu espaço, atenuando sobriamente o estado de embriaguez mental que me guiava dia após dia, Espreito pela abertura, Não vejo a caixa, Mas vejo alguém, Vejo-me exactamente do outro lado espionando curiosamente o interior do meu próprio espaço privado, Estico o meu braço na esperança de me agarrar, Mas subitamente desapareci, Tal e qual como surgi, E recuo, Languidamente, Desta vez para a semi-escuridão, que agora me permite ver sem constrangimentos, Tanto que sem hesitar, Descentralizo o meu pensamento, Evacuo a inércia, E sigo em frente, Através das divisórias que eu próprio construí.

. wasn’t that great? .

. it's a strange world .

Já cá fora, vagueio absorto por entre a multidão louca, E insegura, que tanta vez ouvira chamar por mim, mas que agora não se apercebe, contudo, da minha presença, Paro algures e vomito toda a minha singularidade impenetrante, Para que sintam o seu erotismo libidinoso, E anseiem tocar-lhe, Sexualmente, Mas no chão, não muito longe, distingo uma caixa, A minha caixa, Já não é preta, opaca, É transparente, E dentro dela posso ver o turbilhão que me espera, impaciente, desde que me foi entregue numa bandeja, Corro para a apanhar, mas escorrego, Vergonhosamente, no meu próprio vómito, E a cada passo que dou, a multidão parece desfigurar, crescer em tamanho e violência, E impede-me, sadicamente, de a alcançar, Pelo menos a tempo de a salvar da destruição selvagem a que é sujeita pelos seus pés profanos, Agora é recolher, paciente, os fragmentos que definham na calçada, e correr com eles nas minhas mãos para os alimentar à balança, Estupidamente, Porque como se de vontade própria fossem dotados, escapam-se-me por entre os dedos, e voltam novamente a gravitar à minha volta, soltando risos sarcásticos mas autênticos, Tento desvairadamente agarrá-los, mas a sua velocidade de translação é superior à rotação da minha impossibilidade, Prostro-me, então, de joelhos na calçada, E mordo a língua, tantas vezes como cada som que me ecoa cerebralmente, Sinto um fio quente e vermelho escorrer-me tacitamente pelo canto da boca, e choro, Mas entretanto algo se aproxima, me seca as lágrimas e lambe o sangue que vou perdendo, Abandono o meu olhar desencantado e reencontro quem me espiava e me fugira abruptamente.



Confuso, observo então à minha volta, As peças que me orbitavam desapareceram, Encontraram-se, Para formar o monstro que agora me abraça e me pede secretamente, Dá-me o teu corpo, Dei, E pela primeira vez não tive medo.

. this is a story that happened yesterday . but i know it's tomorrow .

Agora, nada mais excitante que poder atravessar o abismo absoluto pisando a corda bamba da minha racionalidade, Reconhecer que os vestígios de uma ténue mediocridade que me parasitava padeceram da disfunção emocional, E morreu, Resta-me, então, seguir a linha imaginária de olhos vendados, onde um simples passo vale tanto como mil palavras, Se me equilibrar, sobrevivo, Se cair, viverei intensamente.

. i like to remember things my own way . how i remember them . not necessarily the way they happened .

Conforta-me, todavia, poder ajustar perfeitamente uma correlação racional aos devaneios silenciosos que fui espraiando ao longo da minha existência, pois aí sei que não me anulei, e que algures pude inverter a tendência, e explodir exponencialmente na minha potencialidade.

Essencialmente, preciso da esquizofrenia no red level.

. in the future .
. you’ll be dreaming .
. in a kind of sleep .
. when you’ll open your eyes .
. someone familiar will be there .

December 4, 2008

. what's wrong with this picture? .


Com uma faca cravada no peito, surgiu à minha frente, Nem nos meus pesadelos mais surreais concebera uma fisionomia tão hedionda, Ao mesmo tempo tão viciante, mas indubitavelmente familiar, Um rosto cru, desprovido de expressão, mas vivo, O suficiente para se mover, Electricamente, na minha direcção.

. it's in your reach . concentrate .

. (we need to concentrate on more than meets the eye) .

Cada passo seu ia descentralizando vertiginosamente o meu magnetismo, reduzindo a cinzas toda a arrogância pestilenta, Que antes nunca conseguira despir, mas que agora me virava formalmente as costas, Não que a esperasse ao meu lado, munida de uma armadura e pronta a sacrificar-se por mim, Apenas a sentia como minha, Mais que nunca, neste preciso momento, E assim discorrendo, em vão, em tais paradoxos, verguei-me à letargia fatal, Pois com uma simplicidade diabólica, e até hoje inexplicável, veria como com a sua mão se desembaraçava suavemente do objecto cortante para com ele me apunhalar num ímpeto, Apesar da dor excruciante se difundir lentamente por todas as minhas artérias, veias, capilares sanguíneos, eis que chegada à medula, Parou, Um silêncio, Meu, Teu.

. i was never faithful . and i was never one to trust .

. borderlining schizo . borderline bipolar .

. i was never loyal . except to my own pleasure zone .

. i was never grateful . that's why i spent my days alone .


Porquê, indaguei, Porque mereces, replicou, Que mal te fiz, Existes, E esse facto importuna-te, Mais que tudo o resto nesta merda de mundo, Se este mundo é a merda que alegas, então devo ser imundo, Se fosses só imundo não me perturbavas, foi sim a tua insanidade condescendente que me fez enterrar esta faca duas vezes, Então qual o significado de me golpear com a mesma arma, Para que o nosso sangue se misture e te salve.

. if you deny this . then it's your fault . that God's in crisis . He's over .

. i was hanging from a tree . unaccustomed to such violence .

. haemoglobin is the key . to a healthy heartbeat .

E foi com estas palavras que activaste o teu antídoto, um implacável formigueiro que percorria as minhas vísceras de modo pulsante, Essa adrenalina imediata, Uma inevitável ascensão, A esperada bem-aventurança, Foi esta a senda percorrida desde as catacumbas infernais até ao Jardim do Éden, O proclamado Paraíso que não conhecia e agora me beliscava os olhos de forma contundente, É este o lugar que todos procuram, Onde se vive harmonicamente, sem conflitos, E por cada frame esboçado no meu horizonte, uma nova sensação se apoderava de mim, Desde a Estranheza ao Vómito, É degradante, Asfixia, Revolta, Como podem enaltecer a cegueira indulgente destas criaturas em detrimento da imprevisibilidade fervilhante do Inferno, Aquele que queima para que nos mantenhamos desvelados, Para que vivamos desmedidamente cada segundo e reneguemos o destino inexorável, A eternidade apática repudia-me, Quero a intensidade efémera.

. every time i rise . i see you falling .

. can you find me space inside your bleeding heart .

Meras idiossincrasias, Talvez, Mas precisamente quando a minha alma parecia predisposta a renunciar ao seu corpo, abri os olhos e sacudi a inércia, Compus-me, comme il faut, e com um murro seco desfiz o espelho à minha frente.

. it falls apart .

. (but it's you i take 'cause you're the truth not i) .